CULTURA POPULAR E...
MARCO CALIL
CORDEL
ANDANTE – Você pode se
apresentar, por favor? Dizer o seu nome e a sua formação técnica e falar um
pouco da sua última experiência artística?
MARCO
CALIL - Bom, eu sou Marco Calil, sou formado em
licenciatura pela Universidade Federal da Bahia e agora, sou mestrando em artes
cênicas. Minha formação é licenciatura em teatro, trabalho como ator, também
atuo como professor e agora como pesquisador, já que estou fazendo o mestrado
na área de artes cênicas. A
minha última experiência com teatro foi em um musical, do texto de Jorge Amado:
“Mar Morto” e eu tocava, apenas tocava no espetáculo, tocava percussão.
Mas...Eu posso falar de uma outra experiência, mais interessante?
C.A – É claro! Fique a vontade.
M.C. - Junto com o “Mar Morto” eu tento desenvolver um outro
trabalho, que é um trabalho que eu faço em vários lugares, inclusive na rua.
Por exemplo: nos ônibus, e é uma experiência muito bacana pra mim. È uma coisa
que eu faço como uma experiência, mais pessoal, do que pra ganhar dinheiro,
então isso me ajuda como artista, como pessoa, como ator, enfim. Essa
experiência como o palhaço é uma coisa que eu vou levar sempre comigo e que me
deu a base dessa coisa mais popular, dessa coisa mais corpo a corpo com o
público.
C.A.
- Para você existe uma cultura popular?
M.C.
- Na verdade, pra mim, existe sempre cultura né,
porque...Não vou definir cultura porque isso é muito complicado. Cultura é o
que? Basicamente seriam os costumes, os modos e a forma como as pessoas pensam
em um determinado lugar, em uma determinada sociedade, de um determinado povo,
de uma determinada cidade ou de um país, enfim. Então, dizer que não existe
cultura popular é dizer que não existe o povo, não existe uma sociedade, não
existe nada. E a cultura é isso: a cultura está junto com todo mundo. Então, eu
sou cultura, você é cultura, todo mundo é cultura e é juntando tudo isso que
nós vamos formar essa cultura macro. Então, para mim, sempre vai existir cultura
popular em qualquer lugar, aonde quer que seja. Nessa perspectiva para mim, a
cultura popular sempre existe e sempre vai existir.
C.A – E o que, exatamente a designa?
M.C.
- Cultura Popular pra mim seria aquela coisa que é
enraizada naquele povo, uma coisa que pode ser –ou não- transmitida de pai pra
filho, mas que tenha uma marca daquele povo, uma marca, daquelas pessoas,
daquela região, daquela sociedade. Se há uma manifestação cultural naquilo ali,
e aquilo ali se repete sempre, e aquilo ali está acontecendo sempre, pra mim,
isso que é a cultura popular de uma localidade, das pessoas de uma determinada
sociedade e eu vejo a cultura popular como uma coisa que está sempre acontecendo,
como se fosse quase uma religião. Aquilo sempre acontece e é comum, uma coisa
natural dali, daquela região e que desperta o interesse das pessoas em irem
nesse lugar para ver uma determinada coisa, uma representação da cultura
popular específica daquele povo. Seria mais ou menos nesse sentido.
C.A. – Esse é o tipo de trabalho (com a cultura popular e com o
teatro de rua) que lhe apraz mais ou que lhe provoca como artista?
M.C. - Sim, com certeza! Sem dúvida alguma. Me apraz, com certeza!
Porque, como eu falei eu trabalho com palhaço, e como eu trabalho com palhaço
na rua, no corpo a corpo eu acredito que esse fazer do teatro de rua, da
cultura popular, esse tipo de trabalho que a gente está desenvolvendo com a
“Carabina”, é uma coisa que
me chama a atenção no sentido de que a gente vai até as pessoas. Ás vezes a
gente se queixa, dizemos que as pessoas não têm acesso ao teatro ou à cultura,
por questões financeiras, e porque o teatro é muito elitizado e tudo
mais... Só que a gente se
esquece que, às vezes, realmente, as pessoas não vão ao teatro, por falta de
estímulo. Então quando me chamam para um trabalho desse tipo, eu acho bacana,
porque nós vamos até as pessoas, e não o contrário. É como se as pessoas
estivessem realizando seus afazeres cotidianos e de repente Pam! O teatro
aparece, e começa a acontecer tudo, então isso é muito bacana porque a gente é
quem vai até o público e não público atrás de nós.
Esse
é um grande desafio para o ator ator, e é uma coisa que sempre acontece comigo
como palhaço, é um desafio você estar sempre jogando. Para mim teatro é jogo,
então, você joga com o outro ator, você joga com a platéia, você joga com tudo.
E há uma coisa: Você nunca sabe o que pode vir a acontecer. Podem acontecer
coisas que você não vai imaginar nunca! E você precisa ter o discernimento, o
entendimento de jogo. Trabalhos desse tipo, seja palhaço, seja teatro de rua,
ou de cultura popular, é interessante para o artista o exercício nesse sentido,
de você estar sempre sendo desafiado e o ator deve estar sendo sempre desafiado
para que saia de sua zona de conforto. Senão fica muito fácil: você chega
decora um texto, e beleza! Você pode saber todas as marcas, você pode saber
todo o seu texto e suas entradas e saídas, mas, e se alguém entrar na hora de
sua cena? E se alguém gritar ou falar alguma coisa no meio do seu texto? E aí?
Não vai adiantar nada eu saber as falas, nem as marcações nem nada, então esse
desafio do improviso, do jogar com aquela pessoa e de você tornar aquilo uma
coisa natural é que é o barato!!
Que maravilha ver que nesta nossa Bahia existe este tipo de ator, com verdadeiros pensamentos sobre o que tem importância dentro da arte cênica. Amei sua entrevista, Kalil! Nélia
ResponderExcluirO Comentário acima foi postado pela minha mãe!Foi postado em meu nome pq o pc dela devia estar logado em minha conta. Rsss...mas assino embaixo também! Beijo mãe!
ExcluirAmei, Marco...sorte sempre!!!
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